4.14.2010

Devorador do Tempo

Ah! Tempo se tu me pudesses dizer do que és feito, que consistência é feita a tua eternidade?

Eu te criei, mas sou fruto de ti. Através do tempo, Tempo, desenvolvo-me, evoluo, involuo, nasço, vivo, morro. Mas, ainda assim, teu criador sou eu, criatura! Ideia minha, meu anseio que tanto não quero mais.

A nossa relação, Tempo, é composta por ambiguidades.

Às vezes só tu podes curar-me as feridas, às vezes, não.

Às vezes só tu podes me mostrar com quem estava a razão, às vezes, não.

Às vezes um mal-entendido, uma palavra mal dita, só tu podes fazê-los esquecidos, às vezes, não.

Às vezes só tu podes evitar um dissabor, uma ofensa, às vezes, não.

Às vezes só tu podes impedir uma batalha e daí uma guerra, às vezes, não.

Às vezes só tu podes adiar uma despedida, às vezes, não.

Às vezes tu dizes, sim! Às vezes, não!

Às vezes te tenho como aliado. Às vezes, como inimigo.

Tu, Tempo, és minha imaginação, minha lógica, minha obviedade. Através de ti roteirizo a minha vida e, vivo de acordo com o teu passar, que às vezes é lento demais, às vezes rápido demais.

Tu és marcado pelas luas, pelas estações, pelas sombras do sol, pelos ponteiros movidos por cordas ou por baterias de lítio.

Afligindo-me, preocupando-me, sinto que daqui a pouco já não poderei fazer da noite o teu final, o teu começo. Será necessário deslocá-los para outra parte de ti, Tempo, pois terei que ter um pouco mais de ti.

Vês como sou teu algoz, teu devorador, teu senhor? Mas, a ambiguidade mais uma vez se mostra, pois enquanto eu te domino, tu me dominas.

A lógica reside no fato de que tu existes porque eu existo. A minha imaginação te cria e alimenta a todo instante. O óbvio é que acabamos por um ao outro dominar, o que me leva a pensar que o mundo é sempre um segundo elevado à potência infinita.

Ah! o tempo acabou!