9.17.2008

A última dança

Estoicamente, ele se levantou do sofá como se quisesse provar que ainda era um forte. Dirigiu-se à entrada da casa, parou no pequeno corredor, sorriu o sorriso dos valentes esperançosos e tomou-me pelos braços para um arremedo de dança, fazendo-me com ele simular alguns volteios no espaço exíguo.

Naquele momento, em sua alegria triunfal, sem saber, ele começava a ensinar-me uma nova lição de vida.

Naqueles passos trôpegos, aprendi que o tempo de duração da vida é a dimensão da vontade em vivê-la.

Aprendi que sempre restará uma esperança, ainda que não mais existam.

Aprendi que podemos ser nobres em meio às nossas misérias diárias.


Aprendi que o tempo não prevalece sobre as relações verdadeiras.

Aprendi que por maior que seja a vontade de parar é necessário seguir em frente.

Aprendi que devemos reconhecer no outro, somente as suas virtudes.

Aprendi que jamais devemos postergar o que pode ser feito agora.

Aprendi que sempre será o momento oportuno para um sorriso, uma palavra amiga, um elogio ao outro.

Aprendi que devemos aproveitar o momento único de nossas vidas no qual somos todos contemporâneos em um curto espaço de tempo no planeta para vivermos, finalmente, em paz.

Aprendi que nem todas as verdades precisam ser ditas e as necessárias podem ser expressas suavemente.

Aprendi que a paciência será a minha companheira fiel na velhice e uma das minhas melhores e mais prudentes amigas, hoje.

Aprendi que os sentimentos de vaidade e orgulho são úteis até o ponto em que nos faz sentirmos bem conosco mesmo. Quando eles passam a ser motivos de perda, preocupação e futilidade, devem ser redimensionados.

Aprendi que nem todos os limites podem ser superados e devemos saber conviver bem com isso.

E, aprendi que a vida não é uma contagem regressiva e que a sua conclusão não se dá num amontoado de anos vividos, mas no segundo em que se vive.

Foram poucos segundos de uma dança inesperada ao embalo de uma música composta por apenas duas notas: esperança e vontade de viver. Mas, ainda hoje posso ouvir a melodia reforçando em mim tudo o que aprendi através daquela que acabou por ser a última dança de meu pai.


Luiz Albertho de Vasconcellos

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo!! Lindo!! Lindo!!
As mensagens espirituais podem ser emitidas não apenas pelas palavras, mas tb através da dança.
Segundo as tradições das danças circulares, alguns movimentos simbolizam a fraternidade entre os homens. "As danças resgatam a inspiração do homem em sentir a energia criadora da vida dentro de sí. Unir Céu(inspirador, mágico, espiritual, divino) e Terra (humano, material, terreno) em seu ser, no seu centro, em seu coração, de forma prática e palpável, dançando".
Compartilhei com você essa dança, aquilo que foi aparentemente separado, foi reunido no encontro sagrado da vida com a vida.
" A dança é que escolhe o dançarino"
Iara Victória

Luís Alberto disse...

É por isso, minha doce companheira Iara que sempre te amarei, assim como sempre te amei. Você é linda, você é amiga, você é leal. Sou egoísta, sim, por querer você só para mim. Te amo!